(in absentia...)
Foi-se um lindo ser. Foi-se um grande professor, um maravilhoso pai, um sábio...
Como é duro este apertozinho da despedida de alguém que nos é importante, quando da viajem pra lá que ninguém sabe ao certo onde fica, enquanto ficamos nós aqui tentando nos refazer de todos os baques que invariavelmente sofremos, tentando juntar os cacos depois de estilhaçados os vitrais d’alma.
Uma coisa, no entanto, é certa: Para tudo há o seu tempo. Há tempo de nascer e tempo para morrer. Internalizar isso é ser fiel à vida, é saber respeitá-la, pois a “reverência pela vida”, diz Rubem Alves, exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.
Aliás, mestre Sapuca, foi contigo com quem me iniciei naquele que hoje é para mim um verdadeiro guru: Rubem Alves. Foi com o texto “A pipoca”. Lembro-me como se fosse hoje. Aquele texto me transformou, sua simbologia, a expressividade e a singeleza como trata aspectos tão importantes da vida que muitas vezes deixamos de lado. Aspectos esses como da transformação porque deve passar o homem para que ele venha a ser o que ele deve ser. Para que isso ocorra deve-se passar pelo fogo, afinal “quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira” (trecho de “A pipoca”, de Rubem Alves).
O autor mineiro finaliza sua crônica com o seguinte parágrafo: “Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...” Decerto, notável Professor, não eras piruá, isto é, milho que fica no fundo da panela, pessoa fechada para a vida, carrancuda e cheia de cascas; todavia, eras pipoca, milho que estoura e se transforma em branca flor, porque mesmo adulto eras criança, a enxergar a vida como uma grande brincadeira. Com que satisfação falavas dos teus netos... sinto que por vezes com eles te confundias.
Vênia. Peço permissão, meu pai e mamãe, porque eu sou também Rodrigo. Rodrigo de Sapucahy. Se eu sempre me acostumei com a confusão de na minha família me chamarem ora de Ricardo, ora de Geraldo, contigo, querido Sábio, sabia que nunca haveria (e nunca houve) incerteza de como me chamarias: era Rodrigo. Sempre. Rodrigo do Sapucahy! Tal fato, no início, motivo de correção pelos amigos da sala, depois já era uma constante e que nos levava a risos, porque nada conseguia fazer para que não me chamasses de Rodrigo. Saiba: sempre gostei de sê-lo.
Fazendo este texto e recordando desse e de muitos outros momentos, passageiros, mas que hão de ficar, e por isso que são bons, gostosos de (re)lembrar, é que se deflagra uma realidade, um sentimento: SAUDADE. Já sinto aquela pontinha de ausência, da distância incalculável que agora te separa de nós, teus filhos, netos, amigos, alunos... de nós, teus eternos admiradores.
Findo esta singela homenagem com dois excertos do poema “Parece um sonho” de Mário Quintana, poeta das coisas simples como mesmo dizias:
(...)
Mas tua imagem, nosso amor, é agora
Findo esta singela homenagem com dois excertos do poema “Parece um sonho” de Mário Quintana, poeta das coisas simples como mesmo dizias:
(...)
Mas tua imagem, nosso amor, é agora
menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora...
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
"Parece um sonho que ele tenha vivido!
(in presentia...)
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Na foto, respectivamente: Walker (amigo) e Sapucahy, querido que se foi. Vá em Paz. Descanse. Aprenda a língua da imortalidade, do infinito porque a nossa bem aprendeste e eras um sem igual quando a ensinava!