O começo do (re)começo

Aqui começo este blog, meu primeiro "post", mas o assunto que abordarei será recomeço, que não deixa de ser um começo, mas de algo já vivenciado ou se não na sua total fidelidade, pelo menos o é em analogia, algo parecido!

VIAGEM EM CÍRCULO (Cassiano Ricardo)

(REPETIÇÃO)

a esperança me o-

briga a caminhar

em círculo em tor-

no do globo em tor-

no de mim mesmo em

torno de uma mesa

de jogO

viagem em círculo

sem ida nem venida

sem nenhuma avenida

adeus com a mão esquerda

amanhã recomeçO

A esperança, essa sim, musa de qualquer coisa que não se sabe o que, obriga-nos a volver por um lado, por outro, por isso, naquilo, sair dali, esperar, seguir, retroceder, avançar, parar. E voltar, voltar, voltar. Indago-me, muitas vezes, por que tenho a sensação de vivenciar algo diversas vezes, e pior, parece que do mesmo modo, sem mudanças!

Pode parecer que tenho enojo da esperança. Somente é impressão! Ocorre que, às vezes, nem a esperança encontra estadia na minha vida, por vezes sou um oco de perspectiva, um sobrevivente que abstém-se de si por um tempo, relega-se a outros planos de importância, até que, enfim, 'aquela' musa, a esperança, volta, e me faz girar em torno do eixo da minha própria vida!

ROTAÇÃO (Cassiano Ricardo)

a esfera

em torno de si mesma

me ensina a espera

a espera me ensina

a esperança

a esperança me ensina

uma nova espera a nova

espera me ensina

de novo a esperança

na esfera

Minhas esperanças quando se renovam, não coicidentemente, renovam também minha vida! E assim, nessa rotação de vivências, de atualizações, do bom funcionamento dessa engrenagem, minha vida melhora, entro nos eixos, tomo minha vida como finalidade e não como capricho!

Fico triste porque constato todas essas fases quase que passivamente, da indiferença ao que sou, ao que devo ser e ao que realizar para melhorar, até naquelas em que sou um fim, não meio, muito menos início, logicamente que sem passar como rolo compressor por outrem. Fico chateado porque quando mal estou parece que busco/espero um milagre, que uma chuva faça-me o favor de ir por mim interceder, quando, isso, na verdade, cabe tão-somente a mim. Sou eu quem deve deve testemunhar, interrogar, falar e até julgar (de mim). Devo ser protagonista desses papéis. Devemos ser de nós, acredito!

Apesar de todos esses problemas, é possível se encontrar momentos de lucidez. Às vezes sou muito lúcido comigo, não hesito em me responder, em me ser parceiro, em me dá um tempo, em aproveitar o tempo, em aproveitar a ausência em prol de mim...

Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

Nesses momentos, de uma benéfica ausência assimilada, espreito momentos ótimos, momentos reflexivos, estóicos, momentos de pura contemplação grega para minha vida, não narcisisticamente, mas expansivo por fazer de um singelo questionamento uma máxima de vida, uma razão que me faz sentir VIVO! Que esses dias se prolongem, sejam atemporais e constantes... Quiçá eu consiga. Quiçá eu queira. Quiçá. Quiçá...