sexta-feira, dezembro 25, 2009

[...Quando o ser e o parecer são cúmplices...]



Escutava certo dia uma música de Caetano denominada “Uns” e percebi o quanto é pertinente seu conteúdo. Ela começa com o verso uns vão. Estive a me perguntar quem vai (?)! Vão muitos, inclusive os uns tão, os que pensam que são, vão uns pés, uns mãos, vão uns cem, uns sem, uns que têm e outros que nada têm, vão uns deuses, uns bichos, uns azuis, uns menos, uns mais, uns por demais.

Se vão é certo que para algum lugar se vai! Os que são só cabeça geralmente enclausuram-se em suas idéias, em seus devaneios de mundo de só razão, constroem labirintos enigmáticos para seus sentimentos que talvez nem eles próprios sejam capazes de decifrar, por isso que não raro se perdem de si mesmos. Os que são só coração, ah!, esses sofrem e vão para onde o coração manda, amam e desamam só para depois amar mais ainda, esquecem de amar só para terem o prazer de amar como se fosse a primeira vez e brincam num pique esconde a fim de achar seu amor só pelo cheiro, pela intuição e assim provar o quanto amam. Nada mais coerente. Diz Drummond “que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?”. Os que se negam a viver a vida nem vão nem ficam, são levados. Ora pela desilusão, ora pelo esquecimento, não querem ser lembrados, não querem lembrar... da vida, do amor, da dor que punge o coração quando um projeto pessoal não se concretiza. Recusam-se a provar o tempero da vida, a sentir o apetite das experiências, não se possibilitam descobrir os hieróglifos que o amor deixa gravados n’água e na pedra. Que triste sina!

E ainda há outros... há os saudosistas que carregam para o futuro a realidade do passado, deixando o presente impregnado de choro pelo que deveria ter sido e não está sendo. Há os esperançosos de que tudo vai dar certo, de que tudo terá um desfecho ditoso, crêem num mundo só de felicidades e em vias da perfeição, vivem num castelo de areia que qualquer água da dificuldade ou vento da provação pode destruir, não estão aqui com os olhos da realidade, porém adotaram como morada o mundo dos contos de fadas. Há também os de amanhã, os promesseiros do depois. O planeta será das rosas, a vida vai melhorar, vou me esforçar, vou ajudar, vou aprender, vou fazer o que deve ser feito... A-M-A-N-H-Ã! E este amanhã nunca chega, pois ao romper a manhã do dia que até a pouco seria o dia vindouro, este logo se transforma em hoje e nada se faz, já que a promessa encontra raízes no dia que ainda vem, que parece tão distante ou tão real quanto o 30 de fevereiro.

Como causa e efeito ou ação e reação, o que vai algum dia volta. Uns vão para se encontrar e se acham por um tempo. Depois, como já era esperado, se perdem e resolvem voltar para o reencontro consigo. Se se reencontram, nã0 sei, só se sabe que o (re)encontro consigo fica cada vez mais difícil, nessa peregrinação por si o que vai ficando são só matizes do que já se foi. Também há aqueles que vão e voltam para se desencontrar, pois a simples idéia de se depararem consigo lhes causa grande pavor, por isso a ânsia em encontrar aquilo que não são e em convencer-se de que sendo o que não são, serão.


E no final das contas todo mundo que vai e volta, que se encontra e desencontra, que mostra o que não é e tenta apagar o que é, perde um pouco. Perde um pouco de si porque fica sempre numa busca insaciável daquilo que pensa ou gostaria de ser, contudo esquece-se de dar tempo a si próprio para esquadrinhamento e investigação do seu território interior. Dessa forma nem vou nem volto, simplesmente fico. Fico e aceito os dissabores da vida. Fico e, resignado, me conforto com as lições aprendidas. Fico e me vejo por vezes a dançar o baile da solidão. Fico e me encontro na minha ausência, e a sinto como Drummond a sentiu, assim branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços. Fico porque sinto dar passos de gigante mesmo quando, para afoito observador, apenas avanço como preguiçosa tartaruga. Fico porque a felicidade me é companheira, ela está aí por toda parte a se exibir toda saudosa e simples, não é um sentimento de grande estardalhaço, entretanto fica em pacotinhos de alegria para que a sintamos gradativa e incessantemente. Fico porque me constipei de amor quando ele bateu na porta, na aorta. Amada minha, pode entrar!



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Adoro esta crônica, é sem sombra de dúvidas uma das minhas diletas! Espero que gostem.

5 comentários:

Unknown disse...


perfeito..
Parabéns!pelo dom que vc tem de se expressar tão bem por intermédio das palavras..Adorei!

obs: Afinal de contas você se considera como os "uns"?

Unknown disse...


Perfeito..

Parabéns ricardo! Pelo dom que vc tem de se expressar tão perfeitamente.
Vc redigiu tantas palavras bonitas q fiquei sem rsrsrsr..
Forte abraço jú

Dannielle Monteiro disse...

Belo texto , como foi citado por outras pessoas , você tem o dom de se expressar bem , perfeitamente .
Beijos

Waleria Magahães disse...

palavras tão inteligentes assim tinham que vim de você!
ehehehhe
adorei seu blog meninooooo
bjsss

Anônimo disse...

Meu amor parabéns por escrever tão bem. Ter o dom da escrita é para poucos e voce tem e o usa muito bem. Com minha admiração, sua namorada.