À Márcia
“Teus poemas, não os date nunca...”. Com tua licença Mário Quintana, poeta das coisas simples, vou sim datar este poeminha em prosa, esta crônica que possui destinatário certo! Se dizes que o poema não deve ser datado para existir na atemporalidade, para fazer-se concretizar em qualquer um, para interagir com aquele que porventura venha senti-lo e lhe dê alguma significação, digo-te poeta dos grilos, poeta dos jardins, que para esse modo de poetar para o imprevisto, para o infinito, na linha fugidia do tempo e do não endereçamento a alguém, há exceções. Poucas, mas há. Por isso, efetivamente começo agora esta crônica pela sua datação.
Há exatos vinte e dois anos, nesta mesma data de 19 de Abril, nascia uma fantástica criatura de Deus. Criatura essa que vinte e dois anos após seu nascimento não imaginava que estaria a passar por grande prova. Prova atrás de prova, flores sendo colhidas para exalar perfume noutros campos, noutro plano. Tudo muito rápido, tudo feito dentro do mistério sideral cuja única voz por ora é o silêncio. O mundo a girar cada vez mais veloz, o tempo a acelerar seu ritmo, a impulsionar mais rápido as transformações, a fazer misturar sentimentos que por tão fortes não se sabe quais são, como atuam, onde desembocam, quando vão ser curados. Em meio a tanta confusão de espírito, uma única certeza: a vida não pára... E por não parar é que ela segue e com calma vai fechando as fendas de dor que foram abertas, arestas de solidão que se convertem em experiência, possibilitando conhecer um pouco mais desta diva tão maravilhosa, a vida! O mistério lhe abraça e a faz rara, a vida é tão rara. Quem duvida disso? Por isso ela pede paciência. Pede que o tempo a ser teu amigo seja o tempo da prudência, o tempo das respostas, o tempo que caminha a passo conjunto com a sabedoria.
Se há algo que deve guiar nosso pensar é saber que não somos um errante a constantemente perder-se tampouco estamos sós neste mundo. Há algo de eterno em nós e sempre há algo a eternizar-se de nós. Da flor que Deus levou para pertinho de Si, Ele levou apenas uma pétala. As outras estão em ti, no teu queixo, no teu cabelo, no teu coração, no teu amor, no teu silêncio. Saiba que marcas tuas foram embora também, foram compor o grande plantio do Grande Jardineiro, e por isso Ele olha por ti, Ele te vê como uma flor madura, capaz de compartilhar teu principal perfume com Ele. Os girassóis também foram, foram luzir alguma coisa de misterioso no paço do Rei, foram acompanhá-Lo no seu vôo eternal, por horizontes nunca antes visto. Eles estão felizes e por vezes enxergam um ponto luminoso que deixaram na terra. Este ponto és tu, essa luz está no teu olhar, está na comunicação onde somente corações, mesmo distantes, conseguem se entender: na linguagem do amor, a mais usada por Deus.
Aqui fica esta mensagem de compartilhamento dos teus sentimentos. Não é um canto triste, de sortunas exclamações pelo ido, porém um canto de amizade expressado em amor, onde naufragamos num e noutro, onde enlevamos a existência mútua e nisso nos tornamos eternos, nós em ti e tu, em nós.
Esta crônica é nosso sacramento. Por isso, Quintana, dato: 19 de Abril de 2007!
Um comentário:
Tu sabe que eu não puxo saco, principalmente quando se trata dos teus textos. Esse ficou muito bom. Acho que, dos teus, o melhor que já li. Tomou o lugar no pódio do "Cafuné". Aliás, porque ele ainda não foi publicado aqui?
inté!
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