sexta-feira, novembro 28, 2008
POEMA DO PERDÃO
Tudo move
Tudo devolve
Tudo revolve
Tudo pára
e gira
Tudo imagina
Tudo imortaliza
Tudo, tudo, tudo, tudo, mas quem disse que tudo é Tudo?
Tudo é também Nada e o nada tudo completa.
Então, pra que querer tudo se o tudo também é constituído do nada?
Há quem diga que o Nada é importante, e que todos o desejam:
Nada-morte
Nada-corte
Nada ignorância
Nada petulância
Hipocrisia... nada
Desventura... nada
Desesperança... nada
Tudo nada!
Há outros que desprezam o Nada, o vazio, a não existência das coisas. Exaltam o infinito:
Infinito amor
Infinito amar
Infinito mar
Infinito dar
Infinito doar-se
Infinito... tudo infindo!
Desejo o Tudo e o Nada, eles se completam, são dialéticos, imiscuem-se a ponto de um poder ser o outro sem que percam suas naturezas (o tudo de tudo e o nada de nada).
Assim sou... assim somos
Dias sou tudo
Noutros, nada
Dias eu faço alguém regozijar
Noutros faço um lindo ser chorar.
Em dias tudo erro
e nada em outros.
Não sou perfeito, espelho
Nem imperfeito, imagem distorcida
Sou só esse tudo, esse nada
Esse que errou e pede perdão.
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Bom, apesar de eu odiar fazer poemas por achar muito difícil a feitura dos mesmos, eu por vezes ainda me aventuro (sou teimoso, sei disso), mas sinceramente não tenho coragem em expô-los, mostrá-los ou postá-los. Este é uma exceção, pois é um poema meu muito querido e sempre o releio, o revisito. Espero que gostem e que o comentem.
Abraços,
Ricardo Daltro
quarta-feira, outubro 15, 2008
ETERNAMENTE SAPUCAHY (dia 14/10/08)
Findo esta singela homenagem com dois excertos do poema “Parece um sonho” de Mário Quintana, poeta das coisas simples como mesmo dizias:
(...)
Mas tua imagem, nosso amor, é agora
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
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Na foto, respectivamente: Walker (amigo) e Sapucahy, querido que se foi. Vá em Paz. Descanse. Aprenda a língua da imortalidade, do infinito porque a nossa bem aprendeste e eras um sem igual quando a ensinava!
quarta-feira, setembro 24, 2008
Eternamente em Mim Minha Avó
Te foste.
Lá chegaste.
Senti o perfume de flores da morte.
Cheira pungentemente.
Mas está (faz parte do) no caminho!
Não é, contudo, a imagem que fica.
Ficou a fotografia de um ser forte, alguém por quem meu amor foi (é e será) incondicional.
Ficou um grande exemplo de vida, um enorme céu de amor, esculpiste a escultura de tua doce alma em nossas almas, pincelaste em todos nós uma natureza de simplicidade,
e tamanho era teu coração que nos fizeste ter também corações ternos e grandiosos.
Eis a tua obra. Eis a tua assinatura.
Em dialeto só meu “Ravó. Rapé. Rabanho”, me entendeste.
Eu agora tenho que te entender... Foste descansar nos braços d’Ele.
Saudades. Saudades. Saudades
segunda-feira, agosto 04, 2008
CAFUNÉ
Independente da trilha de que nos guiamos, é difícil pararmos para refletir sobre os acontecimentos e deles extrair as boas e más lições. Erro nosso! Não paramos para pensar que objetivamos quase sempre o destino mais fácil, valendo-se do atalho. Este surge como solução porque o esforço nele gasto quase não é sentido e porque é efetivo, pelo menos por algum tempo. Não percebemos, no entanto, que seu efeito mais cedo ou mais tarde termina. Para elucidar isso, falemos de uma relação amorosa que inicia e se sustenta por superficialidades, construída a partir de aparências. O início dela se mostra perfeito, até porque o casal apresenta qualidades sobre-humanas, mas, pouco a pouco ou até de forma abrupta, aquela realidade de cristal se quebra, restando, apenas, a desilusão.
Esta crônica parece caminhar de forma muito previsível, mas não será meu objetivo. Meu fim aqui é difundir a prática do cafuné. Todos, sem exceção, devem cafunear. Termo novo, talvez impróprio, mas pouco importa isso, pois quem cafunea adentra numa atmosfera essencialmente romântica. E isso é o que importa!
Dia desses cafuneei. Fi-lo inicialmente para entreter meus dedos, mas a cada passagem destes por aquela cabeça, coisas suscitaram. Estranha e gostosamente senti tremeliques. Primeiro, de vergonha, pois não pedi autorização para cafunear. Segundo porque o vai-e-vem dos meus dedos por entre as fendas daquele bonito cabelo, remetia aos desdobramentos que nossa vida enfrenta. Quanto mais as trilhas da relva capilar eram descortinadas mais significações isso trazia. Nisso meus dedos percorreram rumo ao norte, ao sul, à região periférica, atingiram o cume, desceram cabelo abaixo, foram ao centro da cabeça, estagnaram a certo ponto, deram ainda voltas e voltas sem algum objetivo aparente e perceberam que tal qual as linhas do cabelo, com suas variadas direções, a vida também apresenta muitos caminhos. Há a direção que nos leva à solidão; outra que nos conduz ao deleite; tantas mais que nos faz ser egoístas, impassíveis, adoradores do “EUmismo”; e há ainda a direção que cria em nós uma necessidade de respeitarmos o próximo. Linhas, linhas; fendas, fendas; linhas-fendas.
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sábado, janeiro 26, 2008
Teco
Teus últimos suspiros, cansados e dolorosos, eu escutei. Aquele olhar – teu olhar -, distante, disperso e enigmático, eu contemplei. Parecias querer me dizer algo. Parecias te despedir. Parecias me agradecer. Eu não consigo chorar!
Já estavas na minha vida há 3 anos. Apesar de na ocasião ainda me recuperar do desaparecimento da (tua) vovó Rossana, soube desde logo que serias minha alegria, com assento próprio na minha seleta memória. E assim foi. És. Com esse jeito todo singular de ser me conquistaste. Nunca foste muito ativo, sempre na tua vagarosidade de costume. Diferente dos outros, nada pedias, nada disputavas. Esperava que te dessem.
Eras a atração da casa. Tua semelhança com tigre – eras um tigrinho – a todos encantava. Teus olhos, sublimes, tentava perscrutá-los indagando-os por vezes – “o que pensas?”; “o que queres?” ou ainda “sou importante para ti?” -, mas em vão, resposta nunca veio, só entendi que me entendias, da tua forma, na tua linguagem. Que dor é essa?
À minha completa falta de habilidade em te chamar, de atrair a tua atenção, via um Teco todo confuso, todo sem jeito para expressar o que queria, por isso digo que eras minha identidade felina e eu, tua identidade humana. Comunicávamos-nos com e pelo carinho. Meu cafuné tinha liberdade em ti, deixava-te mais bonito e dócil. Em troca, tinha a satisfação de te ver bem, agradecido, este era teu carinho em mim. É difícil suportar: te foste...
Houve também erros. Erraste e quando tais ocorreram precisei te corrigir. Fi-lo senão com uma dó no coração, pois tinha que ser bravo contigo, coisa que não gostava, porém era necessário. Não demorava e como pedido de desculpas roçava-te nas minhas pernas. Terminávamos no cafuné e assim selávamos a paz. Esse era o nosso dialeto. Todavia, trouxeste um termo estranho à nossa linguagem: DESPEDIDA. para onde? por que?
No horizonte tento angular meu olhar ao teu. Não consigo. Não conseguirei. O meu não consegue ver tão longe, só percebe a tristeza de sentir a ida do seu ente. Eu chorei: Teco se foi...
Adeus meu amado gato
Teço-Teco...